A pandemia da COVID-19 impulsionou os governos de todas as partes a fornecer inovações tecnológicas nos atendimentos públicos, especialmente no cuidado à distância, devido ao envelhecimento da população, o crescimento de doenças crônicas e a questão da saúde mental. Esses desafios evidenciaram a necessidade de abordagens mais sistêmicas, focadas nas pessoas e na integração de processos governamentais e fluxos de dados.
A partir desse contexto, o relatório aponta uma abordagem inovadora em relação a reorientação dos (eco)sistemas de cuidado, que busca olhar para o cidadão de forma integral dentro da rede de saúde e bem-estar oferecida por governos. Isso implica em considerar as diferenças regionais, socioeconômicas e de oferta de serviços em diferentes localidades e por diferentes níveis de governo, para que a oferta do serviço se adapte à realidade do cidadão e não o contrário.
Diversos exemplos demonstram abordagens sistêmicas e inovadoras no setor público, como:
- Bogotá Care Blocks, que oferecem serviços holísticos aos cidadãos, levando em conta suas necessidades individuais e que será aprofundado em seguida.
- Solid Start, uma colaboração entre cidades, organizações da sociedade civil e o governo holandês para garantir um bom começo de vida para todas as crianças.
- Plymouth Alliance Contract, no Reino Unido, que busca melhorar o suporte a pessoas com necessidades complexas (como uso indevido de substâncias e falta de moradia, integrando diferentes serviços)
- Healthcare Improvement Hub (ihub) na Escócia promove a construção de um sistema de aprendizado humano no setor de saúde.
A inovação no setor público, especialmente na área da saúde, depende do uso eficiente de dados. A integração de sistemas e a unificação de dados são fundamentais para obter melhores resultados no atendimento. A pandemia evidenciou a existência de dados fragmentados, impulsionando esforços governamentais para unificar e utilizar os dados de forma segura e confiável, incluindo a criação de plataformas de dados e iniciativas transnacionais.
Além disso, há iniciativas que envolvem a colaboração entre diferentes atores, como o Health+ Long COVID nos Estados Unidos, que usa o design centrado no ser humano para lidar com os efeitos de longo prazo da COVID-19, e o Bibliovid, um projeto colaborativo que reúne dados e pesquisas de qualidade relacionados à pandemia. O Programa Queensland Bridge Labs na Austrália busca superar déficits na capacidade de inovação por meio de parcerias entre profissionais de saúde e acadêmicos, enquanto o projeto CrowdBots acelera a pesquisa de Alzheimer utilizando técnicas de crowdsourcing e aprendizado de máquina.
O Estudo de Caso de Bogotá
Os Blocos de Cuidados de Bogotá são uma solução inovadora para enfrentar o ônus do cuidado não remunerado que recai desproporcionalmente sobre as mulheres na cidade. Cerca de 30% das mulheres em Bogotá dedicam cerca de 7 a 10 horas de trabalho de cuidado não remunerado por dia, o que afeta sua qualidade de vida e acesso a serviços essenciais. Com isso em mente, a Secretaria de Assuntos da Mulher desenvolveu a abordagem dos Blocos de Cuidados para tornar os serviços mais acessíveis e centrados nas necessidades dos cuidadores.
O modelo dos Blocos de Cuidados posiciona os cuidadores e o trabalho de cuidado no centro das decisões da cidade, alocação orçamentária e planejamento urbano. Até o momento, eles conseguiram alcançar 300.000 mulheres em 15 blocos de atendimento, e espera-se beneficiar 1 milhão de pessoas até o final de 2023. A iniciativa busca reduzir a “pobreza de tempo” das mulheres, promovendo a igualdade de gênero, melhorando as condições de trabalho e oferecendo oportunidades de autocuidado e bem-estar.
A abordagem inovadora dos Blocos de Cuidados inclui a definição ampla de cuidado, reconhecendo atividades de suporte à vida, e a integração de serviços essenciais e atividades de bem-estar para os cuidadores. A localização dos blocos é estrategicamente escolhida com base na demanda de atendimento, presença de cuidadores, taxa de pobreza e solicitações da comunidade. A implementação dos Blocos de Cuidados exige a organização de blocos de serviços de acordo com as necessidades de 3 grupos: cuidadoras, receptores de cuidados e homens/família. Isso para que, enquanto as cuidadoras focam na conclusão do ensino médio, seus filhos ou netos podem participar de atividades lúdicas no mesmo horário, enquanto homens participam de atividades de mudança cultural.
Além dos benefícios diretos para as cuidadoras, os Blocos de Cuidados representam uma inovação social e urbana. O modelo desafia as visões tradicionais de gênero e trabalho de cuidado, integrando o cuidado no planejamento e uso de infraestruturas da cidade. A abordagem ambiciosa também levou à disponibilização de serviços do Bloco de Cuidados a 15 a 30 minutos de caminhada de distância, em que políticas de mobilidade, habitação e desenvolvimento econômico serão atualizadas para atender às necessidades das cuidadoras. Além disso, para os cidadãos que moram longe de um Posto de Atendimento nas áreas rurais e periféricas de Bogotá, a cidade fornece um ônibus de atendimento para garantir mobilidade e acesso aos serviços.
Os Blocos de Cuidados de Bogotá oferecem um exemplo inspirador de como abordar os desafios do cuidado não remunerado e promover a igualdade de gênero na prestação de serviços públicos. A abordagem centrada nos cuidadores e a integração de serviços essenciais e atividades de bem-estar são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das mulheres e reconhecer o valor do trabalho de cuidado na sociedade.
Outras iniciativas que vale aprofundar
No rol de iniciativas inovadoras na área da saúde mental, o relatório ainda traz uma grande quantidade de iniciativas que focam na empatia e cuidado para apoiar a saúde mental diante de casos de sofrimento mental que podem ter sido desencadeados principalmente durante e após a pandemia do COVID-19. Um exemplo melhor abordado no estudo é o Mental Health Café na Austrália, que é uma abordagem inovadora para enfrentar os desafios da saúde mental. O Café foi desenvolvido por meio de um processo de co-design envolvendo prestadores de serviços, órgãos de saúde e cidadãos, com o objetivo de fornecer suporte não emergencial a pessoas com problemas de saúde mental. O envolvimento da comunidade e a incorporação de experiências vividas são fundamentais para garantir que as necessidades dos pacientes sejam atendidas.
Além disso, diante da aceleração da inovação e transformação digital, novas tecnologias são elencadas como uma revolução na saúde. Alguns exemplos são:
- Telessaúde: Utilizada para fornecer atendimento remoto, permitindo que as pessoas acessem cuidados de saúde mesmo em situações de difícil acesso ou quando o contato pessoal não é possível. Exemplos incluem consultas médicas por videochamada, cirurgias remotas em tempo real usando tecnologia 5G e plataformas de telemedicina baseadas em nuvem.
- Realidade Mista: Utilizada para transformar a saúde pública e a educação, melhorando o atendimento ao paciente e reduzindo riscos para a equipe médica. Exemplos incluem o uso de dispositivos de realidade mista, como o Hololens2, para visualizar informações médicas relevantes como hologramas 3D durante cirurgias e o uso de tecnologia de realidade mista alimentada por IA para melhorar a eficiência e qualidade dos cuidados de saúde.
- Robôs e Drones: Utilizados para fornecer assistência médica à distância. Exemplos incluem robôs capazes de fornecer refeições e medicamentos para pacientes hospitalares, drones de carga voadores para entregar medicamentos em áreas remotas e drones utilizados para entregar sangue e medicamentos essenciais a hospitais rurais.
- Inteligência Artificial (IA): Utilizada em diversas áreas do cuidado, como diagnóstico, tratamento personalizado e prevenção de doenças. Exemplos incluem o uso de IA para realizar atendimentos personalizados de pré-natal e cuidados infantis, detecção precoce de anemia, depressão e outros transtornos, e o desenvolvimento de assistentes virtuais e chatbots com IA para oferecer suporte e técnicas de terapia cognitivo-comportamental.
Também é apresentado o estudo de caso de Tucuvi na Espanha, que trata do problema da falta de enfermeiros e médicos na Espanha resultou em necessidades não atendidas, disponibilidade médica insuficiente e menor qualidade dos serviços de saúde. Para lidar com essa situação, surgiu o Tucuvi, um assistente de voz baseado em inteligência artificial que fornece suporte aos médicos e pacientes. Ele realiza perguntas de triagem padronizadas, apoia a avaliação do estado de saúde dos pacientes e informa os profissionais de saúde sobre os resultados. O Tucuvi opera por meio de chamadas telefônicas, proporcionando uma solução eficaz e acessível para melhorar o cuidado de pacientes crônicos e idosos.
A responsabilidade algorítmica e as novas formas de cuidados pós pandemia estão intrinsecamente ligadas no contexto atual. A pandemia da COVID-19 impulsionou a adoção de inovações tecnológicas no setor de saúde, especialmente no cuidado à distância. Essas inovações, como o uso de algoritmos e sistemas de dados, desempenham um papel fundamental no fornecimento de cuidados eficientes e personalizados. No entanto, a responsabilidade algorítmica se torna crucial nesse cenário, pois é necessário garantir que os algoritmos sejam transparentes, éticos e justos, evitando viés e discriminação. Além disso, as novas formas de cuidado pós pandemia, como a reorientação dos ecossistemas de cuidado e a incorporação de abordagens centradas nas pessoas, também requerem uma responsabilidade algorítmica adequada para garantir que as tecnologias sejam usadas de maneira responsável e que o cuidado seja equitativo, acessível e de alta qualidade para todos.
As próximas tendências abordadas serão sobre novos métodos para preservar identidades e fortalecer a equidade, e novas formas de envolver cidadãos e residentes.
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